Resenha: Sangue de Tinta

Livro: Sangue de Tinta

Autora:Cornelia Funke

Editora: Cia das Letras

Nota: 3 estrelas

* Essa resenha contém SPOILER para quem não leu o livro Coração de Tinta.

Sangue de tinta dá seguimento à aventura de Meggie e seu pai, Mo, um encadernador de livros que tem o estranho dom de dar vida às palavras dos livros que lê em voz alta, fazendo seres das histórias surgirem à sua frente como que por mágica. No primeiro volume da trilogia Mundo de Tinta, a língua encantada de Mo traz à vida alguns personagens de um livro chamado Coração de tinta, e acaba mandando para dentro da trama a mãe da menina.

Agora, neste segundo episódio, Meggie dá um jeito de entrar ela mesma no mundo fictício de Coração de tinta, onde tem o prazer de encontrar fadas, príncipes e saltimbancos que dançam com o fogo; e o sofrimento de acompanhar as artimanhas de vilões cruéis e sem misericórdia. Uma jornada sombria, repleta de fantasia e aventura.

Quem leu a minha resenha de Coração de Tinta, percebeu o quanto eu me encantei com a estória. Mergulhei de cabeça no primeiro volume da série, e devorei as páginas com a mesma velocidade que novos personagens saíam dos livros.

Por isso, quando peguei Sangue de Tinta, minhas expectativas estavam muito altas para a série. Afinal em trilogias,geralmente, o segundo livro (isso vale para filme também) é sempre o melhor, o mais marcante,o que vai te deixar boas recordações.

Isso acontece, porque no primeiro ainda estamos nos familiarizando com a estória, e no terceiro, não queremos dizer adeus, e algumas perguntas ficam sem repostas devido ao curto espaço para terminar a narrativa. Mas com Sangue de Tinta, segundo volume da Série Mundo de Tinta, me senti mais perdida do que no primeiro volume.

Maggie está fascinada com o livro Coração de Tinta, e com as estórias que a sua mãe conta sobre o mundo de origem de Dedo Empoeirado e Capricórnio. Mas é quando Farid, o rapaz que Mó tirou do livro Mil e Uma Noites, aparece em sua janela desesperado para poder entrar no livro atrás de Dedo Empoeirado, ela resolve segui-ló.

Não vou contar muitos detalhes do que os dois aprontam dentro desse mundo, para não estragar a surpresa de ninguém. Mas foi no momento que os dois vão viver as suas aventuras, que eu comecei a ficar perdida.

Há tantos personagens novos inseridos na estória, que o número de pessoas presentes na narração quase triplica. Até aí tudo bem, mas como Meggie já conhece a estória, como Farid já conhece uma parte, basicamente todos já estão bem posicionados no mundo, é muito pequena as partes que alguém para para explicar o que está acontecendo.

No livro contém sim, um Quem é Quem, mas ele estava posicionado no final do livro, e não tem uma nota de rodapé, sequer avisando. Como alguém que já descobriu importantes coisas, xeretando nas últimas páginas, eu perdi esse costume.

Por isso, só fui conseguir me situar dentro da estória, quando mais para a metade, fui ver quantas páginas faltava, e encontrei o que me fez falta no livro inteiro.

Tirando isso, que foi um erro na hora da diagramação, achei que no momento em que eles entraram no livro, a magia de todo o mundo de tinta, sumiu um pouco.

Não havia mais lugar para imaginar, eles estavam ali.

Outro ponto, foi o romance meio forçado entre Meggie e Farid, não que eles não fossem por esse caminho, mas de um momento para o outro, eles estão ali, completamente apaixonados.

Gostaria de ver mais a relação de Dedo Empoeirado com Roxanne ( a sua companheira no livro), e a sua filha. Quer dizer, estamos dentro de Coração de Tinta, e os personagens que mais aparecem são os de fora.

Como disse, Cornelia fez um trabalho estupendo em Coração de Tinta, então por mais que esse apresente alguns pontos negativos ainda continua um livro acima da média.

As melhores cenas são as que Dedo Empoeirado está. Dentro ou fora do livro, ele continua sendo um personagem fascinante, e seja conversando com Roxanne, ameçando Fernólio ou ensiando Farid um novo truque, vamos nos envolvendo com a forma diferente que ele vê e se relaciona com o mundo.

Quero a magia de volta, e espero que a encontre no 3° livro da série, Morte de Tinta!

Fanny Ladeira

Cornelia Funke, nasceu em 1958, em Dorsten, na Alemanha. Escritora e  ilustradora de livros infantis e juvenis, recebeu diversos prêmios literários. Com mais de quarenta títulos publicados, é autora, entre outros, do aclamado O senhor dos ladrões, publicado em 2004 pela Cia. das Letras e best-seller na lista do New York Times. Entre os seus maiores sucessos, está também a trilogia Mundo de Tinta, cujo primeiro volume, Coração de tinta, adaptado para o cinema, tornou-se um best-seller mundial, com mais de 4 milhões de exemplares vendidos.