domingo, 13 de fevereiro de 2011

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Resenha: Não me Abandone Jamais

kazuo-ishiguro-capa Livro: Não me Abandone Jamais

Autor: Kazuo Ishiguro

Editora: Cia das letras

Nota: 5 estrelas

 

Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de "cuidadora". Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos os "alunos" de Hailsham são clones, produzidos com a única finalidade de servir de peças de reposição.


Assim que atingirem a idade adulta, e depois de cumprido um período como cuidadores, todos terão o mesmo destino - doar seus órgãos até "concluir".

Eu já falei do filme que foi baseado nessa obra a algumas semanas, e disse lá que “Ainda não li o livro, mas se ele for tão bom quanto filme, valerá muito a pena!”, bom como sempre o cinema não foi capaz de passar todas as emoções do livro para a telona, mas ainda assim, ao contrário de muitos filmes por aí, continua fiel a obra.

Entretanto o livro, com todas as suas 344 páginas, consegue passar mais realismo e emoção. Nos afundamos nas emoções da personagem principal Kathy e passamos a conhecer melhor a personalidade dos seus dois grandes amigos de Hailsham, Tommy e Ruth, para então podermos ter um visão maior da estória.

Ishiguro, não se preocupa em montar a explicação cientifica para os clones, fazendo o que qualquer autor sensato, faz quando se vê perto de assunto que não conhece, não mexe muito.

Então, não espere uma explicação mirabolante para o efeito, mas ele entra naquilo que deveria, e revela a alma de Kathy completamente. Ela é uma vítima da situação, assim como todos os estudantes de Hailsham, e por causa disso sempre fala “não os culpo, por nada” talvez por estar dentro de toda a confusão que esses jovens enfrentaram, uma mais madura Kathy, não guarda rancor de ninguém, nem de quem ela deveria.

Ela também não tem nenhuma revolta contra o sistema, não é um livro aonde eles tentam se rebelar, não há planos para fugas, eles simplesmente seguem o plano que foi determinado para a vida deles.

Não é por causa disso, que a vida não resolver pregar peças e mexer com toda a situação deles, os fazendo passar pelos mesmos sentimentos que qualquer pessoa passaria.

Depois que os três amigos, (Kathy, Tommy e Ruth) deixam Hailsham para trás, eles são lançados para o mundo ‘normal’ e tentam manter as amizades mesmo com todos os elementos externos levando para o outro lado.

“…Mas eu não era uma vidente naquela época, não mais do que sou hoje. Eu estava chorando por diversas razões combinadas. Quanto eu assisti você dançando naquele dia, eu vi alguma coisa diferente. Eu vi um novo mundo vindo muito rápido. Mais cientifico, eficiente, sim. Mais curas para antigas doenças. Muito bom. Mas um mundo difícil e cruel. E eu vi uma pequena garota, com os seus olhos fechados, abraçando esse velho mundo, um que ela sabia que o seu coração não poderia pertencer, e ela estava abraçando e implorando, Nâo me abandone jamais. Foi isso que eu vi. Não era o que você estava fazendo, eu sei. Mas eu vi e isso quebrou o meu coração. Eu nunca me esqueci.”

Não é a estória de um triângulo amoroso, o autor não se entregou a isso, mas é a estória de três pessoas com as suas características e que em diferentes momentos da vida tem as suas razões para os seus atos. Podemos dizer que Ruth, é um pouco egoísta, porém devo dizer que peguei a mania de Kathy e irei dizer que ela ‘não tem culpa de nada’.

Em um certo momento o tão esperado romance de Kathy e Tommy finalmente acerta o seu passo. Será que o plano montado para a vida deles, considerou essa opção de dois estudantes de apaixonarem, ou eles terão que seguir como programado pelas suas funções?

Nós não paramos para pensar, mas do que adianta ter tudo se nos falta a liberdade sobre as nossas escolhas, sobre o nosso próprio corpo?

Você se pega orando e pesando na situações deles, e se você fosse um clone criado somente para repor órgãos para humanos? Como se sentiria? Se alguém falasse repetidas vezes que você não possui alma, será que você chegaria a acreditar?

E se houvesse clones, seres que fosse capazes de prolongar as nossas vidas, e nos fizessem livrar de doenças, como o câncer? Seria maravilhoso, mas a que preço?

Você seria capaz de ignorar e não pensar no custo de se viver mais? São ótimas questões, já que a ciência vai evoluindo a cada momento.

Eu amo quando um livro nos faz mergulhar, sonhar, imaginar e questionar diversos pontos que nem sequer pensamos no nosso dia-a-dia.

Uma obra-prima moderna.

 

Fanny Ladeira

 

01252_m Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasaki, Japão, em 1954, e mudou-se para a Inglaterra aos cinco anos. Seu romance Os resíduos do dia ganhou o Booker Prize (1989) e foi adaptado com sucesso para o cinema, no ano passado estreou a adaptação de Não Me Abandone Jamais, e estreou em diversos festivais, inclusive no Brasil.

 

 

Resumo do livro, 1° e 2° parágrafo: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11898

Um comentário:

  1. Nossa, que coinscidencia! Acabei de ver o filme, tava pensando o quanto seria legal ler o livro que inspirou e tem aqui uma resenha! Muito boa por sinal, me deixou mais curiosa ainda... Achei a história bem triste, porém muito boa!

    Abraço!

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Fanny Ladeira!