sábado, 17 de março de 2012

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Resenha: 3096 Dias

Livro: 3096 Dias

Autora: Natascha Kampusch

Editora: Versus

Nota: 5 estrelas

Natascha Kampusch sofreu o destino mais terrível que poderia ocorrer a uma criança: em 2 de março de 1998, aos 10 anos, foi sequestrada a caminho da escola. O sequestrador – o engenheiro de telecomunicações Wolfgang Priklopil – a manteve prisioneira em um cativeiro no porão durante 3.096 dias.

Nesse período, ela foi submetida a todo tipo de abuso físico e psicológico e precisou encontrar forças dentro de si para não se entregar ao desespero.

Agora, pela primeira vez, Natascha Kampusch fala abertamente sobre o sequestro, o período no cativeiro, seu relacionamento com o sequestrador e, sobretudo, como conseguiu escapar do inferno, permitindo ao leitor compreender os processos de transformação psicológica pelos quais passa uma pessoa mantida em cativeiro, sofrendo todo tipo de agressão física e mental imaginável.

Quando esse livro saiu, eu comprei, e inexplicavelmente ele ficou na estante por quase um ano, até que finalmente criei vergonha na cara e comecei a lê-lo, somente para ali encontrar um livro que me tocaria em níveis inimagináveis.

Mais do que uma história sobre o seu cativeiro, Natascha encara ao seu passado, para fazer um relato sincero e aberto sobre os seus sentimentos em relação ao cativeiro, aos que ela estava perdendo e a sua relação com o seu seqüestrador, Wolfgang.

Quando Natascha foi solta, a mídia brasileira falou um pouco sobre o caso, mas o pouco que eu ouvi era que a ela tinha uma relação diferente com o seu seqüestrador, que ela sofria da chamada ‘Síndrome de Estocolmo’, e que a relação dela com a mãe após o cativeiro não era das melhores.

“(...) Mais tarde, tocar no papel de parede era uma promessa para mim mesma, que eu renovava diariamente. E a mantive: oito anos depois, quando visitei minha mãe pela primeira vez após o cativeiro, deitei na cama em meu quarto, onde nada havia mudado, e fechei os olhos. Quando toquei a parede, todos os momentos retornaram, especialmente o primeiro: a pequena Natascha, de apenas 10 anos, tentando desesperadamente não perder a confiança em si mesma, pondo a mão na parede do cativeiro pela primeira vez.

__ Voltei – sussurrei. – Veja, funcionou!”

O que posso dizer, é que para vocês esquecerem tudo o que foi falado desse caso, e ler o que a pessoa que mais sofreu tem a dizer.

O livro conta desde a infância de Natascha, até depois que ela foi libertada. E todos os anos horrores que ela passou aprisionada.

Ao ler cada parte, é necessário ter uma força para seguir em frente, e ler o que uma mente doente pode fazer. É assustador pensar que há centenas, e talvez milhares de pessoas como Wolfgang vivendo entre a nossa sociedade, e que nesse momento crianças e adolescentes estão passando por abusos parecidos ou piores do que o de Natascha.

Mais interessante, é entender o lado de Kampusch, ela separa um capítulo inteiro para explicar o seu lado, e mostrar porque as pessoas que a acusaram de ter a ‘síndrome de Estocolmo’ estão extremamente enganadas.

“As coisas não são totalmente pretas ou brancas. E ninguém é totalmente bom ou mau. Isso também vale para o seqüestrador. Essas são palavras que as pessoas não gostam de ouvir de uma vitima de seqüestro. Porque os conceitos de bom e mau já estão claramente definidos, conceitos que as pessoas querem aceitar para não perder o rumo em um mundo cheio de tons de cinza. Quando falo isso, posso ver a confusão e o repúdio no rosto de muitas pessoas que não estavam lá. A empatia que sentem pela minha história se congela e se transforma em negação. Pessoas que não têm idéia das complexidades do cativeiro me negam a capacidade de julgar minhas próprias experiências ao pronunciar três palavras: “síndrome de Estocolmo””

No final, de todas as notícias que escutei sobre o caso, os únicos dados corretos eram os anos que Natascha ficou no cativeiro, e o fato dela ter ficado com a propriedade da casa, que ela dá uma explicação tão simples e humana, que eu me recuso a formar qualquer outro tipo de presunção.

Ao terminar de ler o livro, fiz uma promessa de nunca, nunca, NUNCA julgar uma vítima de um crime. Nunca julgar as suas atitudes, nunca ficar questionando porque elas não fugiram, não gritaram. Nunca querer tirar conclusões.

Só elas passaram pela situação, só elas podem explicar. Só elas tiveram a vida completamente mudada por um crime doentio. E quem somos nós, para julgar?

Leitura Obrigatória!

Natascha Kampusch nasceu em 17 de fevereiro de 1988, em Viena, Áustria, e foi vitima de um dos sequestros mais longos da história. Em 2006 reconquistou a liberdade e, desde então, tenta levar uma vida normal. Na primavera de 2010, Natascha concluiu o ensino médio.

6 comentários:

  1. Nossa Fanny, faz muito tempo que quero ler esse livro!
    Eu me lembrava das notícias sobre essa garota e quando vi o livro fiquei doida pra ler mas nem comprei rsrs
    Depois dessa avaliação, acho que vou comprá-lo :P

    Essa Síndrome de Estocolmo é algo muito estranho mas depois de passar tantos anos com o sequestrador, não seria tão absurdo que ela tivesse. O problema deve ser ouvir esse jugalmento de pessoas que não entendem nada do assunto. Acredito que só um psicologo pra determinar se ela tem ou não.
    E julgar uma vítima não tem muito sentido, tem que julgar o fdp do criminoso kkkk

    Adorei a resenha Fanny!
    Bjos

    Vanessa Pereira
    Nerds Leitores

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    1. Eu recomendo a compra!

      O Livro é triste, mas sabe aquelas coisas que a gente tem que ler para entender o mundo em que a gente vive? Então ele é um deles.

      No livro, a explicação dela sobre o porque ela não considera ele um monstro total, é muito mais ampla e dá para realmente entender o lado dela.

      Penso também que nunca devemos julgar uma vítima, e depois desse livro muito menos!

      Beijos!

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  2. Essa questão do mundo ser cinza, enquanto nos esforçamos para delimitar bem e mal, me fez querer, ainda mais, ler esse livro. Então ela não tem a síndrome de estocolmo? Puxa.

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    1. Depois de ler o relato dela, não acho que ela tenha a Síndrome, e ela fala bastante dessas trevas dentro de cada um.

      É um leitura que vale a pena sim!

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  3. oi...comecei a ler o livro agora.Acho essa historia profudamente triste,pra mim é a mais tragica de todos os tempos! mais ainda to no começo e achei muito complexa a parte da infância dela...acho IMPOSSIVEL que uma pessoa lembre de cada detalhe de sua infancia,pow,ela lembra de coisas de quando tinha 4,5 anos. Sabem o que eu mais acho triste nisso tudo? é a esperança de um inocente criança achando que seria libertada logo,a dor é tao grande quem nem si quer consigo me colocar em seu lugar.Diariamente penso na alegria que seria ela nas primeiras semanas do cativeiro ter sido libertada,com certeza ela teria tido uma outra vida. Até hoje nao sei pq que ela ainda nao recebeu uma grande indenização da Austria.

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  4. oi...comecei a ler o livro agora.Acho essa historia profudamente triste,pra mim é a mais tragica de todos os tempos! mais ainda to no começo e achei muito complexa a parte da infância dela...acho IMPOSSIVEL que uma pessoa lembre de cada detalhe de sua infancia,pow,ela lembra de coisas de quando tinha 4,5 anos. Sabem o que eu mais acho triste nisso tudo? é a esperança de um inocente criança achando que seria libertada logo,a dor é tao grande quem nem si quer consigo me colocar em seu lugar.Diariamente penso na alegria que seria ela nas primeiras semanas do cativeiro ter sido libertada,com certeza ela teria tido uma outra vida. Até hoje nao sei pq que ela ainda nao recebeu uma grande indenização da Austria.

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Fanny Ladeira!